quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

Capítulo Quatro.



Tentei soltar-me de alguma forma, mas não conseguia. Comecei a mexer-me mais na esperança de conseguir sair dali, mas era inútil. - SOCORRO! ALGUÉM ME AJUDE! SOCORRO! - Gritei, na esperança que alguém me ouvisse e me tirasse dali. Senti os meus olhos a encherem-se de lágrimas no meio de todo aquele desespero e pânico. Eu estava aterrorizada, presa à minha própria cama com umas cordas bem apertadas aos meus punhos e tornozelos. Quanto mais me mexia, mais me doía. Eu bem podia ficar ali a gritar feita maluca, mas não me ia valer de nada. Se eu não tivesse deixado as persianas abertas, o meu quarto estaria completamente escuro, mas felizmente não estava, devido à claridade do luar que invadia o meu quarto. Tentei sair dali uma vez mais e voltei a pedir socorro, e foi então que vi uma sombra escura a passar rapidamente por ali, o que me assustou. Fiquei quieta de imediato e levantei melhor a cabeça para tentar ver alguma coisa, mas aquilo, ou aquela pessoa pôs-se no canto mais escuro do quarto, evitando que eu conseguisse ver. Mas segundos depois aproximou-se de mim, devagar, e eu consegui ver quem era. Naquele momento não sabia se havia de estar aliviada, ou com mais medo ainda. Fiquei calada a olhar.
 - Não grites, não faças mais barulho, por favor. Eu vou tirar-te daqui. - Murmurou ao meu ouvido, dando depois um leve beijo na minha bochecha direita. Rapidamente retirou uma adaga da sua devida protecção e coldre, cortando as cordas que me amarravam à cama com imensa força. Ajudou-me então a levantar-me, mas o meu corpo acabou por ceder. Pegou em mim ao colo, colocando-me depois no seu ombro, agarrando apenas as minhas pernas com muita força. Mas parecia que nem sequer se estava a esforçar. Fechei os olhos para não ter de ver se alguém ia atrás de nós e mal dei por mim já estava noutro local. Parecia que tinham passado apenas meros segundos... Fiquei tão confusa, sem perceber nada do que estava a passar. Pousou-me então no chão e agarrou o meu rosto. - Como te sentes? - Perguntou baixinho, olhando-me nos olhos.
 - Confusa. Meio tonta. Algo fraca. - Encolhi os ombros e suspirei, olhando depois ao meu redor. - Onde que é que estamos? - Questionei curiosa, tentando descobrir por mim mesma. De certa forma parecia-me algo familiar, que eu já tinha visto, mas talvez não desta forma. Olhei-o e esperei uma resposta.
 - No Anexo da casa, nas traseiras. - Respondeu calmamente, deixando-me caminhar por ali. 
 - Ah... O que é que aconteceu? Como é que foste lá ter? Como é que viemos tão depressa até aqui?! - Perguntei rapidamente, virando-me e aproximando-me.
 - Tu tens de descansar agora. Tenta não pensar muito nisso. - Pediu, pegando depois na minha mão e levando-me até ao sofá. Depois sentou-se e eu acabei por me deitar, pousando a cabeça no seu colo. - Precisas de dormir agora. - Murmurou, mexendo nos meus cabelos.
 - Mas, e se voltarem? - Perguntei a medo, fechando os olhos.
 - Não vem ninguém para aqui. Confia. - Falou baixinho, continuando a mexer calmamente no meu cabelo. Acabei por adormecer meio aninhada naquele sofá pouco depois.

Os raios de sol aqueciam a pele descoberta do meu corpo. Acordei lentamente e abri os olhos, olhando em redor. Estava no meu quarto, estava tudo normal. Estava deitada debaixo do lençol e cobertores, e com uma camisa de dormir curta vestida. Mas, eu estava vestida, deitada num sofá, num suposto anexo da casa... Como é que vim aqui parar? E como estou vestida com uma camisa de dormir?
Persephone abriu a porta depois de bater duas vezes à mesma e entrou, aproximando-se da cama calmamente.
 - Bom dia, menina. Está tudo bem? Como já são dez e meia e ainda não tinha descido, eu preparei-lhe um pequeno-almoço e trouxe-lho. - Afirmou, pousando o tabuleiro no meu colo depois de me sentar na cama.
 - Ahm, sim está tudo bem. Muito obrigado por me ter trazido a comida. Já agora... Aconteceu alguma coisa cá em casa ontem à noite? - Perguntei curiosa, observando a sua expreessão, que mais uma vez estava tão confusa quanto eu ontem à noite.
 - Não, menina. Não aconteceu absolutamente nada... Eu e Uther dormimos muito bem toda a noite e não ouvimos nada de especial. - Disse logo de seguida, muito séria. Depois abanou a cabeça como se acontecer alguma naquela casa fosse algum disparate. Suspirei e mordi o lábio nervosamente. - Bem, se não se importa eu vou para a cozinha, tenho de ir adiantando o almoço. Se precisar de alguma coisa é só chamar. - Afirmou, esboçando-me um doce sorriso. Depois de eu assentir ela ajeitou a sua roupa e saiu depois.

Pousei o tabuleiro na cama e saí da mesma, indo a passo acelerado para a casa de banho. Fechei a porta e encostei as costas à mesma, deixando-me escorregar até ficar sentada no chão. Encostei a testa nos joelhos e assim fiquei, tentando acalmar-me. Por alguma razão, eu sentia-me assim, nervosa, ansiosa e com algum medo.
Senti algo a tocar-me e ergui logo o rosto.
 - Ah, Elijah... Que susto. 
 - Desculpa, não te queria assustar. Como estás? - Perguntou, mexendo cuidadosamente no meu cabelo.
 - Com medo. Nervosa, ansiosa... Estou tão confusa, Elijah. - Quase murmurei, encarando-o.
 - Eu já não te tinha pedido para tentares não pensar nisso? Eu sei que é complicado, mas pelo menos tenta. E por favor, não perguntes por mim a ninguém. - Disse-me, num tom muito sério e expressão a condizer.
 - Porquê? E como me encontraste ontem? Como é que...? - As minhas perguntas foram interrompidas quando ele colocou o seu dedo indicador sobre os meus lábios, ao de leve. Eu estremeci ligeiramente e olhei-o nos olhos.
 - Não faças perguntas. Não tentes saber, não investigues. Quanto mais souberes, pior será. - Aconselhou, sem desviar o olhar. Eu suspirei pesadamente e desviei o olhar, baixando o rosto.
 - Obrigado pelo que fez por mim a noite passada, Elijah - Disse baixinho, sem o conseguir encarar.
Elijah segurou o meu rosto com ambas as mãos e fez-me olhá-lo nos olhos. Lentamente, aproximou os seus lábios dos meus e um segundo depois, os seus lábios tocaram os meus e eu beijei-o calmamente, levando as minhas mãos a segurarem o seu rosto de igual forma. Elijah puxou-me para si durante a troca de beijos que era cada vez mais intensa. Ele acabou por se deitar no chão e eu caí sobre ele, enquanto a nossa sessão de beijos ainda durava.. - Elijah... - Sussurrei, numa tentativa de parar com aquilo, mas ao invés disso despi a sua camisa de linho de forma rápida e desajeitada.
 - Shh. - Ordenou, segurando as minhas mãos com força depois de eu lhe despir a camisa. Rolámos pelo chão e ele segurou nos meus punhos, acima da minha cabeça e só com a mão esquerda, com força suficiente para que eu não me conseguisse soltar. Voltou a beijar-me intensamente, descendo depois até ao pescoço.

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Capítulo Três.


Mantive a mão a tapar a boca, levando depois a outra a fazer o mesmo, com alguma força, sentindo o chão a estremecer ligeiramente com os passos. Parecia que vinha naquela direcção, viria certamente atrás de mim. Rapidamente gatinhei até à cama e escondi-me debaixo da mesma. Pouco depois os passos pararam, e eu suspirei. Mordi o lábio, pensando que já tinha passado, mas foi então que começou alguém a bater à porta, com alguma força, tentando também abri-la. Espreitei, olhando para a porta e quando a vi a ser arrombada, voltei a esconder-me bem debaixo da cama, encolhendo-me e tapando a boca para que aquela coisa não me ouvisse. Fechei os olhos com força e deixei-me ficar ali.

Ouvi um zunido que me despertou. Fiz uma careta, ainda meia a dormir, e aconcheguei-me melhor debaixo do lençol e dos cobertores. Suspirei pesadamente porque afinal o zunido não parava e acabei por abrir os olhos. Alcancei o telemóvel que vibrava sobre a mesa-de-cabeceira e com algum custo olhei para o ecrã do mesmo. Carreguei na tecla verde e deitei-me de lado, deixando o telemóvel sobre a orelha de modo a que eu não tivesse de o segurar e de modo a que não caísse. - Estou? Estou?! - Consegui ouvir uma respiração ofegante que depois foi diminuindo e terminou, assim como a chamada. Revirei os olhos por ter sido acordada em vão e depois pus o telemóvel em cima da cama, ao meu lado. Como já estava desperta, não ia conseguir adormecer novamente. Sentei-me na cama e olhei em redor. Quando olhei para a porta, lembrei-me da noite passada. Quer dizer... Eu lembro-me daquele homem, lembro-me que adormeci na secretária enquanto estava no computador, e depois... Aqueles gritos, aquela coisa que me perseguiu e... Espera, a porta não tinha sido arrombada? Como é que a porta está tão... Intacta? Ou eu estou a dar em doida, ou então foi apenas um sonho extremamente realista. Não, não pode ser. Como ia eu sonhar com uma coisa daquelas? Ainda nem consegui ver os cantos todos da casa, e fui sonhar logo com uma porta tão específica? Existem outras que eu podia ter aberto primeiro. Não pode ter sido um sonho. Mas por outro lado, não há outra explicação. Se não tivesse sido um sonho, a porta estava literalmente destruída. Suspirei pesadamente com os meus pensamentos e tentei enxotá-los apressadamente. Abanei a cabeça e saí então da cama, dirigindo-me à casa de banho.Depois de fazer as necessidades, liguei a torneira da banheira e temperei a água. Despi-me calmamente e ainda me olhei ao espelho, apreciando o meu corpo elegante no mesmo. Sorri e depois liguei o chuveiro e entrei na banheira, fechando então a cortina da mesma. Lavei primeiro o cabelo com o meu champô, duas vezes, e depois com o condicionador. Depois disso, peguei no sabonete e lavei o meu corpo, calma e cuidadosamente. Assim que terminei, alcancei uma toalha e enxuguei o cabelo. Enrolhei o cabelo na toalha e depois abri a cortina. E assim que o fiz, acabei por gritar, não muito alto.
 - Que susto! O que é que o Elijah está aqui a fazer? - Perguntei eu, ainda de coração acelerado e tom trémulo. Peguei rapidamente numa toalha e tapei-me desajeitadamente. Não sei do que me vale agora, ele já teve tempo de me ver nua.
 - Não é preciso ter tanta pressa em tapar-se, eu estive a apreciá-la enquanto tomava banho. - Disse ele, com um sorriso vitorioso enquanto o seu olhar estava perdido, certamente, nas minhas curvas definidas. Revirei os olhos ao ouvir o que ele disse e acabei por retirar a toalha que tapava grande parte do meu corpo. Quando voltei a olhar para ele, estava só de calças, que lhe assentavam que nem uma luva. Engoli em seco e desviei o olhar. Enxuguei melhor o meu cabelo e de seguida limpei o espelho embaciado, para me ver melhor no mesmo. Mordi o lábio ao ver que ele estava descaradamente a olhar para o meu traseiro. Ri baixinho, de canto, e abanei a cabeça. Amarrei o meu cabelo rapidamente num rabo-de-cavalo e depois peguei novamente na toalha, limpando-me. Assim que terminei, olhei-o. 
 - Vai ficar aí a olhar para mim, Elijah? - Questionei num tom sério, e ao ver que não me respondia, por estar demasiado distraído a olhar para os meus seios, encolhi os ombros e virei-lhe as costas, caminhando para o quarto. Assim que lá cheguei, vesti algo bonito mas bastante cómodo e depois fiz a minha cama. arrumei as minhas coisas e peguei no telemóvel, descendo depois até à sala de jantar.
À medida que descia as escadas já se fazia sentir o cheirinho, provavelmente do meu pequeno-almoço. Assim que entrei na sala, Persephone estava já a servir-me um prato com panquecas, assim como uma pequena taça que continha chocolate e morango, derretidos. Tinha uma cor... de sangue. Sorri-lhe e agradeci baixinho assim que me sentava no mesmo lugar que ontem.
 - Bom dia Persephone. Obrigada pelo pequeno-almoço. Cheira muito bem e tem um ótimo aspeto. - Comentei, enquanto o olhava para o mesmo. Reparei entretanto que não havia prato para mais ninguém. - Você e Uther não tomam pequeno-almoço comigo? - Perguntei curiosa, encarando-a.
 - Não, menina Angelique, nós já comemos. Bom apetite. - Desejou ela, preparando-se para sair daquela divisão. Mas antes que o fizesse, chamei por ela, e aproximou-se novamente de mim.
 - Posso fazer-lhe uma pergunta? - Questionei enquanto mastigava um pequeno pedaço de panqueca que havia cortado.
 - Claro menina, esteja à vontade.
 - Porque é que aquele rapaz cá está? - Perguntei sem grandes demoras, num tom sério enquanto a olhava.
 - Qual rapaz? - Perguntou ela, de sobrolho franzido, como se não soubesse ou não fizesse nenhuma ideia do que eu estava a falar.
 - O Elijah... - Respondi, num tom baixo.
 - Desculpe menina, mas eu não faço ideia de quem você está a falar... Nem conheço ninguém com esse nome. Pode perguntar a Uther quando ele chegar, mas duvido que ele saiba quem seja, senão tinha-me contado. - Afirmou, e depois retirou-se.
Então ninguém sabe quem é o Deus Grego que aqui vive? Como assim? Ele vive aqui e eles não sabem? Ora, isso é mais uma coisa estranha para me chatear a cabeça, só pode. Suspirei pesadamente e depois continuei a comer, devagar, enquanto trocava alguns sms.

Depois do pequeno-almoço, fui levar as coisas a Persephone que estava distraída na cozinha, e depois coloquei o telemóvel no bolso das calças e fui até ao Hall de entrada. Subi as escadas e fui até àquela tal porta, que eu supostamente abri na noite passada. Ou no meu sonho. Suspirei antes de tocar no puxador sequer, e depois aproximei-me. Coloquei a mão sobre o puxador e fiz pressão sobre o mesmo devagarinho. Quando fiz força para a frente, para a abrir, entendi de imediato que ela estava fechada. O raio da porta está trancada, por isso só pode ter sido um sonho. Um sonho estranho, mas foi um sonho. Recolhi a mão e depois voltei para o meu quarto.
Tranquei-me no mesmo, pois apetecia-me estar sozinha. Peguei no portátil mas depois voltei a pousá-lo na secretária. Nem sequer sabia o que me apetecia fazer. Fui até à janela e fiquei a observar a rua, por onde não passava quase ninguém. Depois abri o armário e comecei a ver as minhas roupas. Acabei por fechá-lo segundos depois, e fui à casa de banho. Ele não estava ali. Ele não está em parte nenhuma. Aparece às vezes, sem nada dizer, e desaparece de igual forma.
 - Elijah? Estás aí? Elijah? - Chamei por ele, esperando um bocadinho, por algum sinal. Como não obtive qualquer tipo de resposta, olhei-me ao espelho. Inspirei e expirei calmamente. Ou eu estou a dar em doida, ou já estou doida e nem sei. Ajeitei as minhas roupas e endireitei-me, caminhando depois até ao quarto. Mal passei pela porta da casa de banho, alguma coisa agarrou o meu cabelo e fez-me recuar. Assim que a parte traseira do meu corpo embateu nessa tal coisa, eu percebi o que era.
 - Chamaste-me? - Sussurrou ele ao meu ouvido, ainda a agarrar o meu cabelo, puxando-o um pouco mais, de forma a que ele inclinasse a cabeça para trás, encostando-a assim ao seu ombro. Ou pelo menos eu penso que é o seu ombro. Estou meio confusa.
 - Sim. Eles dizem que não te conhecem. Afinal, quem és tu, e o que estás aqui a fazer? - Perguntei baixinho, com o coração já acelerado. Ao invés de me responder, começou a beijar o meu pescoço. Eu tentei sair das suas garras, mas ele voltou a puxar-me para si. Tem mais força do que eu. - Pára. - Pedi primeiro, baixinho. Contorci-me ligeiramente e mordi o lábio ao sentir a sua mão a percorrer o meu corpo. Irritada, elevei o tom de voz. - Elijah, pára imediatamente! - Ordenei, e de repente senti-o a largar o meu cabelo. Respirei fundo e dei um passo em frente. Quando olhei para trás, não estava ali ninguém. Deitei-me na cama, já um bocado cansada do que estava a acontecer. Embalada nos meus pensamentos que quase me endoideciam, acabei por adormecer.

Acordei estremenhava depois de um sonho esquisito. Estava ainda deitada na cama, sobre a colcha, como tinha adormecido. Tentei mexer-me, mas não consegui. Foi então que percebi que não estava bem como tinha adormecido, como eu pensei. Olhei em redor e vi que tanto as minhas mãos como os meus pés estavam amarrados à cama. tentei soltar-me, mas sem sucesso. Quando vi a porta a abrir-se lentamente, chiando ligeiramente, levantei a cabeça para tentar ver.

quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Capítulo Dois.


Engoli em seco enquanto olhava uma vez mais para aquela comida. Primeiro era o Prato de Sopa, que eu nem conseguia bem descrever o que estava bem ali à minha frente. Parecia que tinha um prato cheio de um líquido semelhante a sangue, algumas massas por ali, e bocados de carne... crua. Mordi o lábio e ao perceber que ainda me olhavam, forcei-me a pegar na colher. Olhei-os novamente e esbocei um pequeno sorriso.
- Bom apetite! - Acabei por dizer, da forma mais sorridente e simpática que consegui. Mas eles continuavam a olhar-me com aqueles olhos, como se me pressionassem para comer, a força toda. Enchi a colher de sopa e inclinei-me ligeiramente para a frente, levando-o à boca. De lábios entreabertos, suguei apenas um pouco daquele líquido vermelho vivo, provando então. E fiquei parva comigo mesma, porque sabia bem. Tão, mas tão bem. Aquilo tinha um aspecto terrível, mas era tão delicioso como se calhar um prato de um chef de renome. Sorri e introduzi a colher na boca, bebendo o resto daquele líquido que a mesma ainda continha. Sorri mais ainda ao saborear melhor aquele sabor, sentindo a sopa a descer por mim abaixo até ao estômago. Estava ainda um bocado quente, daí eu ter conseguido sentir tão bem aquilo a descer. Sorri-lhes abertamente e olhei Senhora Persephone. - Isto está ótimo! Uma maravilha! Hmm, eu não sou grande adepta de sopa, e esta é a melhor que já comi! - Disse eu num tom entusiasmado enquanto olhava a senhora. Vi um sorriso enorme a crescer-se-lhe na face, o que me fez sorrir-lhe de forma carinhosa e fazer um pequeno aceno de cabeça. Fiz o mesmo ao Senhor Whitlock e continuei a comer, deliciada.
Depois daquele primeiro prato, seguiu-se um outro. O Prato Principal, que tinha um aspecto horrendo, semelhante ao primeiro. Mas desta vez eu já nem estava tão nervosa, por isso ataquei logo. E mas uma vez, estava tudo uma delícia. Esta senhora é de facto uma excelente cozinheira. Ainda bem que Uther insistiu comigo, para permanecerem a trabalhar aqui. Assim que terminámos aquilo, tivemos direito também a uma Sobremesa. Escusado será voltar a dizer que sabia muito bem. Mal terminei, limpei a boca ao guardanapo de pano elegantemente e afastei o pires de mim. Afastei também a minha cadeira da mesa e olhei-os. - Estava tudo uma delícia, Senhora Persephone. Agradeço-lhe imenso por este jantar maravilhoso que nos preparou. Neste momento até estou muito radiante pela insistência do seu marido em continuarem por cá. Agradeço-lhe por isso, Uther. Mais uma vez Senhora Persephone, muito obrigado pelo jantar. - Agradeci eu, com um sorriso simpático e carinhoso. Mal me levantei, estiquei logo o braço para alcançar os pires e ajudar a levantar a mesa.
 - Nem pense!! - Disse Persephone muito de repente, num tom alto de voz, que me apanhou de surpresa e me fez estremecer visivelmente.
 - Desculpe... Só queria ajudá-la ao menos a levantar a mesa. - Quase murmurei, olhando-a depois. Recolhi a mão e endireitei-me enquanto os meus olhos estavam presos nos seus.
 - Eu sei menina Angelique, mas não é necessário, eu dou muito bem conta do recado. Agradeço-lhe, mas não é necessário. - Informou ela num tom mais calmo e bastante simpático, com um sorriso a condizer.
 - Pronto, então se o diz, tudo bem. Sendo assim eu vou lá para cima para o meu quarto tratar de umas coisas, sim? - Olhei-os e fiz um aceno de cabeça, virando-me depois para a porta por onde tinha entrado.
 - Ah, menina... - Ouviu-se a voz máscula de Uther, que ecoou pela sala. Pouco depois, continuou. - É melhor levar algumas velas lá para cima. Eu sei que temos electricidade, mas acontece várias vezes ficarmos sem luz devido ao mau tempo e assim... Espere aí só um pouco que eu trago-as já. - Levantou-se da cadeira e foi logo a uma pequena divisão, e de lá trouxe uma cesta que tinha algumas velas e suportes para as mesmas. Via-se na perfeição que eram antigos, mas eram todos trabalhados e muito lindos. Sorri docemente mal os vi e assim que Uther me estendeu a cesta eu peguei nela cuidadosamente. Depois de lhe agradecer, saí então daquela sala.
Para subir as escadas, eu tinha de voltar à zona do hall de entrada, que eu já conhecia. Ou pelo menos penso que conheço. Se esta casa tem atalhos como Persephone referiu, então parece-me que eu não sei de quase nada. O silêncio que se fazia ali tornava-se ligeiramente assustador. Especialmente porque ao menor barulho, tudo se ouvia. Eu tinha umas botas de salto alto calçadas, mas a sola era de borracha, o que fazia menos barulho, felizmente. Ao passar pelo espelho grande, não resisti em aproximar-me e observar-me no mesmo. Sorri abertamente pela felicidade que eu sentia naquele momento e ajeitei os meus longos cabelos, os que estavam soltos. Acabei por retirar o elástico que prendia o cabelo num rabo-de-cavalo e sacudi-o rápida e desastradamente. Sorri ao ver-me toda despenteada.
De súbito, ouvi uma espécie de gemido. Arqueei o sobrolho enquanto ainda me olhava ao espelho. Virei-me de costas para o mesmo e olhei em redor, mas não vi nada nem ninguém. Fui até à porta que dava para a a sala de jantar, onde tinha estado anteriormente com Uther e Persephone, e espreitei para dentro. Eles estavam ainda a conversar enquanto levantavam a mesa juntos. Suspirei baixinho e voltei para a zona do espelho, perto das escadas. Fiquei quieta e voltei a ouvir mais um gemido. Mas não era um gemido de dor. Era, ou pelo menos parecia um gemido de prazer. Fiquei ligeiramente assustada porque, para além de parecer um homem, eu não tinha mais ninguém em casa. Ou pelo menos pensava que não tinha. Devagar, dirigi-me às escadas e subi-as devagarinho. Os gemidos tornaram-se mais audíveis, e eram claramente de prazer. Segui os barulhos, movimentando-me da maneira mais silenciosa possível e acabei por perceber que vinham do quarto que eu tinha escolhido como meu. Engoli em seco ao ver a porta quase encostada e abri-a, devagarinho, observando o meu quarto. Não vi ninguém. Voltei a franzir o sobrolho e entrei pelo quarto adentro enquanto ainda olhava para um lado e para o outro. Os gemidos tinham acabado de repente assim que eu entrei. Fui devagarinho até à casa de banho e ouvi uma porta a fechar-se. Estremeci com o susto e acabei por finalmente ouvir a água a correr, e vapor a sair de lá. Mas como é que eu não ouvi ou vi isto antes? Abri lentamente a porta da casa de banho que estava também quase encostada e os gemidos retornaram, até um mais intenso, semelhante a um orgasmo intenso. Eram meio roucos e arrastados, um tom de voz quase sensual, que me seduziu de tal forma que eu acabei por me aproximar da banheira e abrir a cortina da mesma. Assustei-me novamente ao vê-lo de costas para mim, com a mão esquerda na parede para se apoiar, e a outra parecia estar, talvez, no seu membro. Como ele estava de costas eu não conseguia ver. Só sei que ali fiquei, a apreciar o tal homem que estava na minha banheira. Cruzei os braços ao peito e fiquei à espera que ele desse pela minha presença. Depois de desligar a água, ele virou-se finalmente para mim, sorridente. Acabei por olhá-lo de baixo para cima, em vez de ser ao contrário. Nem parecia meu.
 - Olá. - Proferiu ele, naquele tom de voz sensual e sedutor, algo cansado também, provavelmente devido ao que ele esteve a fazer.
 - Olá. Você é...? É que eu mudei-me hoje para cá e que eu saiba a casa é minha, e não vive aqui mais ninguém. - Disse logo, tentando manter uma postura correcta e séria, tentando também e sobretudo não olhar muito para... Baixo. Engoli em seco ao observá-lo a sair da minha banheira enquanto me olhava sorridente. Provavelmente por eu estar a olhá-lo ou a tentar apreciá-lo discretamente. Ele não pegou numa toalha sequer para se cobrir. Ficou nu à minha frente, a olhar-me. Colocou as mãos na sua cintura, uma de cada lado.
 - Peço imensa desculpa. Pensei que ia adorar ter aqui um Deus Grego só para si. - Afirmou ele, com um sorriso perverso. Eu mordi discretamente o lábio e não resisti mais. Acabei por olhá-lo de alto a baixo, descaradamente. Engoli em seco e suspirei. Lá nessa parte do Deus Grego ele tinha toda a razão.
 - Ainda não me disse quem é. - Proferi num tom de voz mais baixo, com os meus olhos presos aos seus abdominais excelentemente definidos e trabalhados. Com algum custo, o meu olhar voltou até ao seu rosto.
 - Elijah Grayson. E a bela donzela, como se chama? - Perguntou, aproximando-se de mim. Eu recuei à medida que ele caminhava em direcção a mim e acabei por bater no lavatório, com o rabo, o que me fez, obviamente, parar de fugir dele. Rapidamente me alcançou e levou a sua mão à minha face.
 - Angelique. - Disse apenas, olhando-o nos olhos enquanto sentia o toque da sua mão, macia e ainda molhada. Engoli em seco e fugi dali desajeitadamente, indo logo para o quarto. Antes que ele viesse logo atrás de mim, fichei a porta da casa de banho. - Primeiro vista-se, depois é que sai daí. - Falei num tom alto, de modo a que ele ouvisse bem o que eu tinha dito. Depois afastei-me da porta e fui até à secretária, onde já lá tinha o meu portátil. Sentei-me na cadeira e carreguei no botão para ligar o aparelho. Assim que pude, abri o Google Chrome e fiz umas pesquisas. Só me lembro de me sentir cansada, de bocejar e esfregar os olhos.

Fui acordada por uns gritos. Abri os olhos sobressaltada e vi que tinha adormecido. Levantei-me da cadeira e espreguicei-me. Estava sozinha, no meu quarto. Ao ouvir novamente um grito, dirigi-me à porta e abri-a rapidamente. Descalça, percorri o corredor rapidamente, seguindo os ruídos e gritos. Quando abri a porta, de onde julguei que vinham, deparei-me com algo estranho. Primeiramente senti-me tão aterrorizada que voltei a fechar a porta e recuei rapidamente. Fugi, a sete pés dali. Corri o mais rápido que conseguia para o meu quarto e tranquei-me lá. Encostei o ouvido esquerdo à porta e fiquei calada. Mal ouvi passos, pesados, tapei a boca e arregalei os olhos. era melhor eu não fazer nenhum tipo de som.

domingo, 14 de julho de 2013

Capítulo Um.


Dizem que os olhos são o espelho da alma. Nunca acreditei muito nisso, até hoje. Pela primeira vez, eu mesma consigo decifrar o meu estado de espírito. Normalmente, nem eu sei como me sinto. Mas hoje, eu sei. Estou bastante entusiasmada, e sinto-me feliz. É o sonho de qualquer pessoa. Ganhar a lotaria, despedir-se do seu emprego entediante e viver os seus sonhos. Depois de me maquilhar, lembrei-me que ainda nem tinha tratado do cabelo. Peguei rapidamente no pente e escovei calmamente o cabelo, enquanto me olhava ao espelho, com um sorriso radiante. Fiz um rabo-de-cavalo da melhor forma que consegui, arrumei as coisas na minha malinha, e assim que terminei, saí da casa de banho. Olhei o meu quarto agora vazio. Virei-me ligeiramente para a direita, o sítio onde estava a secretária. Recordei as noites que passei a trabalhar, enquanto trabalhava para aquele jornal patético. Fui obrigada a escrever coisas que nem sequer eram verdade, só para cativar mais leitores e manter os lucros que estavam em declínio. Mas, o que podia fazer eu, na altura? Absolutamente nada. Não me podia arriscar a despedir-me. Como isto está, nunca mais encontrava um emprego que me desse o salário que recebia com aqueles. Mas o karma ajudou-me. Eu ganhei a lotaria, e pouco tempo depois de me demitir, o jornal faliu. Fecharam as portas. Sorri com o meu pensamento, e segurei a mala com mais força. Respirei fundo e preparei-me, despedindo-me em silêncio do meu quarto, daquele humilde apartamento.

 - Senhora Angelique Maundrell, está tudo embalado e nos camiões. Estamos prontos. – Afirmou uma voz masculina, vinda de uma divisão não muito distante. Suspirei e sem grandes demoras, fui até à sala de estar, encontrando-me então com o tal senhor. Estava ali a ajudar-me com a mudança. Obviamente que paguei para isto.
 - Ainda bem, muito obrigado. Vamos partir já de seguida. Pode ir andando lá para fora, eu vou só… Ver umas coisas. – Disse apenas, esperando que saísse.

Assim que o fez, eu vagueei uma vez mais pelas divisões, completamente vazias. Nem me acredito que vou sair daqui. Sempre quis viver no campo, na paz e no sossego do senhor, e agora vou finalmente concretizar esse pequeno sonho. Despedi-me da minha casa, das recordações… Praticamente, despedi-me da minha vida antiga, e cumprimentei a nova. Sem mais demoras, peguei na minha mala, colocando-a ao ombro, e segurei a mala que continha a maquilhagem com a mão esquerda. Saí de casa e tranquei a porta. Desci os degraus até ao rés-do-chão e entreguei as chaves na recepção do prédio, como combinado. Quando dei por mim, já estava no meu carro. Pus as chaves na ignição, e dei início até à aldeia onde vou viver.

Eram quase cinco da tarde quando lá chegámos. Não demorámos assim tanto como pensei. Uther Whitlock estava já à nossa espera. Estacionei o carro, desliguei-o, saí sem grandes pressas e tranquei o mesmo. Dirigi-me para Uther e cumprimentei-o.

 - Boa tarde Uther, como está? Finalmente, chegou o dia! – Sorri, toda entusiasmada, fazendo sinal ao pessoal das mudanças para começarem a tratar de levar as coisas para dentro. E foi isso mesmo que eles começaram a fazer, enquanto eu falava com Uther.
 - Bem, visto que já está tudo pago, falta só entregar-me as chaves, Senhor Whitlock… - Disse num tom não muito alto, olhando-o ainda sorridente. Franzi ligeiramente o sobrolho ao ver alguma hesitação da sua parte, mas tentei não ligar muito a isso. Não deve ser fácil dar as chaves de uma casa como esta a uma estranha. Será que era muito ligado à casa? Agora que  penso nisso, eu não sei praticamente nada.
 - Com certeza, Menina Angelique. – Disse pouco entusiasmado, procurando as chaves no bolso das calças, do lado esquerdo. Assim que alcançou as mesmas, retirou-as lentamente e deu-mas.
 - Muito obrigado, Senhor Whitlock. – Houve um silêncio inquietante, e uma estranha troca de olhares. Sentia que ele tinha vontade de dizer algo, mas não sabia se o havia de fazer. – Há algo que me queira dizer? – Questionei, esperando uma resposta sua enquanto mexia no molho de chaves.
 - Na verdade, sim. Eu estou habituado a tomar conta desta casa. Eu era mordomo e empregado desta mesma casa há anos atrás. E gostaria muito que pudesse continuar com esse cargo – Informou, olhando-me nos olhos. Um empregado? Mordomo? Bem que dava um certo jeito, mas eu não estou habituada ainda a tal coisa.
 - Senhor Whitlock, eu não sei se…
 - Por favor, Menina Angelique. É a única coisa que lhe peço. E a minha mulher também gostaria de permanecer o seu cargo nesta casa. Ela era cozinheira, e gostava imenso de puder reviver esses anos de felicidade, em que serviu nesta casa. – Ele olhava-me nos olhos e falava com um certo entusiasmo. Era quase que se me estivesse a implorar, sem o estar a fazer na realidade. Eu pensei durante uns meros segundos e respondi.
 - Está bem, eu aceito que trabalham para mim, Senhor Whitlock. Eu não sabia que o Senhor tinha esposa, não me tinha referido isso. – Olhei rapidamente as suas mãos que tremiam ligeiramente. Não podia ser do frio, pois até estava uma boa temperatura naquele dia. Não fazia frio, nem calor. Uma boa temperatura, amena. Por isso, porque estaria ele a tremelicar? Nervos? Ansiedade? Medo? Não, certamente que é do entusiasmo. Parece-me que ele tem uma forte ligação com esta casa, e talvez a sua mulher também.
 - Tenho sim, Menina Angelique. É normal, ainda só falámos sobre pequenas coisas, para que a Menina pudesse adquirir a casa e mudar-se para cá o mais cedo possível. Mas não se preocupe, pois agora as coisas estão já muito bem encaminhadas, e podemos começar a colocar a conversa em dia. Aí sim, poderá fazer todas as perguntas que desejar. – Um pequeno e doce sorriso invadiu-lhe e iluminou-lhe o rosto. Ouvi novamente aquela voz masculina a chamar-me, para saber onde haviam de montar certos móveis, pôr os sofás, e todas essas coisas.
 - Sim, claro. Peço desculpa, Senhor Whitlock, mas tenho de ir tratar de ajudar os senhores com a mudança.
 - Com certeza, Menina Maundrell. Gostaria que a minha esposa lhe preparasse o jantar? Assim pode começar já a habituar-se a estas pequenas mordomias – Voltou a sorrir-me com um certo carinho e afecto, e tocou levemente no meu braço, com a sua mão fira. Eu retribuí o sorriso e assenti.
 - Claro que sim, acho uma excelente ideia! Sendo assim eu acho que vou informar os homens para começarem a tratar primeiro da cozinha, e assim a sua senhora poderá depois fazer o jantar à vontade. – Retorqui, ajeitando a mala ao ombro.
 - Com certeza, Menina. Irei informá-la de imediato. Às oito em ponto o jantar estará servido. – Informou-me, baixando ligeiramente o rosto, como se me fizesse uma vénia. Assenti e fui de imediato informar os homens para que começassem com as coisas da cozinha. Assim que chegámos à mesma, reparámos que já tinha armários. Apesar de terem um óptimo aspecto e de serem novinhos em folha, via-se na perfeição que eram antiquados. Não sei porquê, mas agradavam-me bastante. Eu era fascinada por coisas de épocas passadas desde pequena, por isso, viver naquele enorme casarão, que fora construído no século passado, é um sonho tornado realidade.

Sete horas e vinte e três minutos, marcava o relógio do meu telemóvel. Tudo estava pronto, nos sítios que eu escolhera. Os senhores da mudança já tinham saído, e eu estava completamente sozinha ali. Era tudo tão silencioso que dava para ouvir as folhas das árvores que rodeiam a casa a embaterem umas nas outras. É uma melodia simplesmente fabulosa. Sinto-me em paz, e em harmonia. Respirei fundo e subi as escadas, indo para o meu quarto. Fui directamente para a casa de banho. Estava decidida a tomar um banho de sais, para relaxar ainda mais. Conectei o meu iPod às colunas próprias para o mesmo, e em poucos segundos, Spem In Alium, de Thomas Tallis, começou a tocar, fazendo-me sorrir. Tinha posto na opção para que quando terminasse, voltasse a tocar a mesma música. Dentro de minutos, a banheira estava cheia, coberta de espuma. Entrei na mesma e deitei-me, aconchegando-me e fechando os olhos, deixando-me apreciar o momento enquanto ouvia aquela bela peça, e aquelas vozes angelicais.

Momentos depois, eu terminei o meu banho e desliguei o meu iPod. Retirei-o e guardei-o numa das gavetas da cómoda. Sete horas e cinquenta e dois minutos, marcava o relógio digital que estava sobre a mesinha de cabeceira. Vesti algo prático e cómodo rapidamente. Umas leggings pretas e uma camisola bastante comprida, de igual cor. Escovei bem o cabelo e atei-o agilmente. Cheirava-me a qualquer coisa, o que me assustou. Arrumei a escova e coloquei o telemóvel no bolso da camisola. Calcei as minhas pantufas e saí do quarto, descendo rapidamente as escadas. O cheiro vinha da cozinha. Dirigi-me apressadamente até à mesma, e vi lá uma senhora, ruiva, com uma farda daquelas típicas de empregada, preta e branca, com um avental branco. Eu aproximei-me calmamente dela, e olhei-a. Estava muito empenhada no que estava a fazer.  – Desculpe, você deve ser a…
 - Persephone. Você é a Menina Angelique, correcto? Sou a esposa de Uther Whitlock. Prazer em conhecê-la, menina. Por favor, vá andando para a sala de jantar. – Ordenou com um doce sorriso. Apenas assenti e saí da cozinha, indo então para a sala de jantar. Mas assim que lá cheguei, Persephone e Uther já lá estavam. Ele sentado, e ela em pé, a servir o seu marido. Fiquei de olhos arregalados, a olhá-los.
 - Como é que você…? – Perguntei ainda incrédula, apontando para ela. Ela virou-se lentamente para mim, e começou a caminhar na minha direcção.
 - Atalhos, Menina Angelique.  – Afirmou muito depressa antes que eu pronunciasse mais alguma coisa – Sente-se. – Voltou a ordenar, e eu assim o fiz. O avental dela estava coberto de algo vermelho. Iria jurar que parecia sangue, mas não pode ser. Abanei a cabeça e vi a comida que Persephone me estava a servir. O que é aquilo? Que comida é esta? Ela voltou para o lugar onde estava um prato ainda vazio. Seria certamente o dela. Serviu-se e sentou-se. Ambos olharam para mim, ao mesmo tempo.